Adepta do homeschooling passa na USP e é impedida de se matricular – Notícias

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A estudante Elisa de Oliveira Flemer, de 17 anos, foi aprovada na Faculdade de Engenharia da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), mas não pôde fazer a matrícula por não ter o diploma do Ensino Médio, uma vez que é adepta do homeschooling.


Moradora de Sorocaba, no interior de São Paulo, Elisa cursou até o primeiro semestre do 1º ano do Ensino Médio em uma escola regular, mas passou para o homeschooling em 2018. Na modalidade, que não é regulamentada no Brasil, o aluno estuda em sua própria casa. 


Em entrevista ao R7, a jovem que ficou em 5º lugar na lista de aprovados em Engenharia Civil da Escola Politécnica da USP, por meio do Sisu (Sistema de Seleção Unificada), conta que deixou a escola porque aprendia muito rápido e se entediava com o ritmo das aulas. Ela diz que até o 7º ano acompanhava o ritmo normal da escola, mas depois disso passou a aprender em ritmo muito mais adiantado que seus colegas. “Eu estudava os conteúdos das apostilas, fazia as lições, levava 20 minutos para fazer isso. Daí, ficava os próximos 40 minutos de cada aula sem ter o que fazer”.



A família tentou mudar Elisa para uma escola mais difícil, e assim ela passou por quatro escolas. Na última tentativa, o problema continuou. Ela adiantava todo o conteúdo das aulas e não podia fazer outra atividade em sala. “Os professores não permitiam que eu lesse outros conteúdos ou acessasse o celular durante a aula. Tinha professor que não permitia também que adiantássemos as lições. Então o que me restava fazer era ficar escrevendo histórias em inglês durante as aulas. Eu avancei bastante nesse estudo, mas me cansei disso.”


A mãe de Elisa, Rita de Cássia Oliveira, de 56 anos, diz que tentou algumas alternativas antes que a filha decidisse abandonar de vez as aulas regulares. “Pedi à diretora que a deixasse ficar na biblioteca estudando, mas eles disseram que isso não era permitido pela lei. Até que no segundo semestre do 1º ano do Ensino Médio, em 2018, ela decidiu não frequentar mais a escola. Meu medo era que ela se desinteressasse pela escola, o que para mim era o pior dos mundos. Então decidi deixar que ela estudasse em casa.”


Elisa foi aprovada pela primeira vez para uma faculdade em 2019, com 16 anos, e também foi impedida de se matricular. A família recorreu à Justiça e, em outubro de 2020, o Ministério Público concedeu uma liminar permitindo que a estudante cursasse a faculdade. Porém, o pedido de liminar foi negado pela juíza Erna Tecla Maria. Ela justificou a negativa considerando que o homeschooling não está previsto na legislação e não foi admitido como ensino apto a certificar o estudante. 


Soluções possíveis


A alternativa para Elisa seria obter o diploma depois de fazer a prova do Encceja (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos), mas o teste só pode ser realizado por maiores de idade. “Elisa fará 18 anos só em setembro. Com isso, ela vai perder mais um ano sem poder fazer a faculdade”, diz a mãe da jovem, Rita de Cássia Oliveira, de 56 anos.


O Encceja é um exame voluntário, gratuito e destinado a jovens e adultos que não tiveram oportunidade de concluir seus estudos na idade apropriada para cada nível de ensino de acordo com idades mínimas:  15 anos completos para o Ensino Fundamental e 18 anos completos para o Ensino Médio. As provas do Encceja 2020 estavam marcadas para este domingo (25), mas foram remarcadas para agosto.


Em uma das tentativas para resolver o problema, a mãe da estudante procurou uma escola pública, na qual foi informada que Elisa poderia progredir apenas um ano, mas teria que obrigatoriamente cursar o 3º ano para obter o diploma.


Perguntada por que não aceitou cursar um ano para conseguir o diploma, Elisa diz que não poderia aceitar algo que não concorda e não vê sentido. “Eu vou passar seis horas todos os dias durante um ano perdendo tempo com algo que já sei, quando eu sei que tenho condições de fazer mais, aprender mais? Eu tenho muito o que fazer”, diz.


Estudar em casa


Elisa foi diagnosticada com transtorno do espectro autista em grau leve, o que a torna bastante metódica e concentrada. Ela segue uma rotina de estudos por um método que ela mesma desenvolveu.


“Fizemos uma avaliação com um profissional e o QI (Quociente de Inteligência) dela deu 120. Ela não é um gênio, é apenas uma aluna dedicada e estudiosa”, diz a mãe.


Para Elisa, não existe disciplina difícil. “Nenhuma dificuldade. Para mim, a matéria é algo que você processa. É uma coisa metódica, mecânica, pega, aprende e passa para a próxima. Não é difícil, é apenas trabalhoso.”


A jovem prefere os conteúdos de Exatas, como Matemática, Química e Física, que, segundo ela, são imediatamente aplicáveis. “Não gosto de matérias que não têm aplicação prática”. Também se diz interessada no ser humano, em tudo o que diz respeito às pessoas, como História, Sociologia e Filosofia. A matéria de que menos gosta é Geografia Física. Por quê, Elisa? “É muito chato”, diz, simplesmente.


Elisa estuda canto e faz aulas de kung fu três vezes por semana. Seu sonho é estudar Engenharia da Computação e também Bioengenharia. Ela quer fazer protótipos e desenvolver um sistema de realidade virtual mais sofisticado do que os atuais, no qual a pessoa possa se sentir verdadeiramente vivendo em outro mundo.


“Quero que os nossos pensamentos sejam realidade, construir uma máquina que permita você se sentir como uma criança num mundo mágico, sentir o vento, o calor, cheiros e sabores, eu sou apaixonada para trazer encanto ao ser humano”, diz.


A mãe explica que a jovem foi vista como um “problema” para as escolas e que chegou a ouvir de uma diretora que “espera nunca mais ter de enfrentar uma situação como essa”. “No começo ela era a aluna boazinha e quieta, estudiosa e inteligente, que sofria bullying dos demais alunos. Depois, ela passou a ser um problema, porque não se adaptava à rotina da escola”.


Enquanto não tem o impasse resolvido no Brasil, Elisa se inscreveu em instituições norte-americanas de ensino, onde o homeschooling é regulamentado em alguns estados. Ela conta que está na lista de espera das instituições Colby College, Hamilton College, Washington and Lee e Stevens Institute of Technology.


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