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Você se lembra o que gostaria de ser “quando crescer”, enquanto ainda era criança?
Não se assuste comigo, mas eu queria ser um hacker.
Eu não tinha computador em casa quando era criança. Quando eu ainda era pequeno, um dia meu pai chegou em casa com duas máquinas de datilografia (as famosas “máquinas de escrever”) que ele tinha pegado em uma permuta. Uma ele guardou para ele e a outra me deu de presente. Rapidamente, ela se tornou o meu “brinquedo” favorito.
Não aprendi a datilografar rápido como as pessoas faziam na época, mas aprendi a me virar, escrevia “jornaizinhos” e aprendi truques que seriam úteis depois quando viesse a “digitar” em computadores.
Lembro também que, quando estava na quarta série, meu melhor amigo me deu um cartão de aniversário que ele mesmo havia feito no computador e impresso em uma impressora matricial. Você se lembra daqueles cartões impressos em que a gente dobrava a folha em quatro?
Depois disso eu descobri que ele tinha em casa um “Apple Macintosh”, então o meu novo sonho de consumo passou a ser o “Apple Macintosh”, mesmo que eu não soubesse direito o que era, só sabia que era um computador.
Então, de posse de minha máquina de escrever, escrevi algumas cartas para o programa “Porta da Esperança”, do Silvio Santos, onde eu contava a minha história (como se fosse grande coisa) e pedia um “Apple Macintosh” para ele. Nunca tive resposta.
Junto com essas experiências, os filmes também tornavam a experiência com computadores algo muito fantástico.
Na década de 80, filmes como “Tron” ou “Mulher Nota Mil” mostravam o que dava para fazer com os computadores indo muito para o lado imaginário, aproveitando que era novidade e que a maioria não sabia direito como funcionava, e deixava uma vontade grande de ter um computador e saber usar bem. Hoje esses filmes parecem paródias, mas são divertidos.
Depois veio o filme “Hackers – Piratas de Computador”, com a Angelina Jolie e o Sherlock, da série “Elementary”. Apesar de ter também os seus exageros, quantos não queriam ter as habilidades do Zero Cool, controlar semáforos, fazer piscar as luzes de prédios ou fazer ligações telefônicas de graça? (Tá, na época era algo relevante)
Quando cheguei ao terceirão e estava terminando meu tempo de escola, nossa professora de Filosofia estava preocupada se já tínhamos uma noção do que iríamos fazer da vida e passou uma atividade para recortarmos notícias de jornais ou revistas sobre as profissões que gostaríamos de ter.
Encontrei em uma das revistas mais famosas (não lembro qual era) uma matéria sobre empresas que contratavam hackers e pagavam muito bem.
A matéria mostrava como as empresas estavam indo atrás de profissionais que se destacavam em seu conhecimento em T.I., por isso tinham salários muito altos e tinham uma certa liberdade no trabalho: não seguiam padrões de vestimentas, tinham horários mais flexíveis, tinham uma boa tolerância em comportamentos estranhos (um deles ficou bravo com o técnico de telefonia e o prendeu em um armário por meia hora).
Depois disso eu fui para a faculdade, cursei Ciência da Computação e não, eu não virei um hacker. Aprendi bem, fui bom aluno sempre, mas aprendi muito com histórias de outros hackers, aprendi também sobre como esse termo é comumente mal utilizado, tendo geralmente uma conotação ruim, principalmente em notícias.
Por definição, um hacker é alguém que sabe muito em sua área (geralmente em tecnologia), que sabe detalhes de como as coisas funcionam e que está muito à frente dos outros. Ele sabe, por exemplo, controlar detalhes entre as comunicações entre computadores ou entre os processos de uma máquina.
Existem as variações do termo, como “cracker”, que é esse quem utiliza o seu conhecimento para o mal e comete crimes. E existem tipos diferentes, como o “phreaker”, que é quem manipula as comunicações, entre outros.
Aprendi bastante através de histórias como a do Richard Stallman, que era um hacker desde cedo e começou o projeto GNU, do Steve Wozniak, que criou os primeiros computadores da Apple, e do Kevin Mitnick, talvez o hacker mais famoso de todos, que passou anos preso e hoje trabalha com consultoria.
Estudar a história dos hackers nos inspira e nos ensina duas coisas muito importantes. Primeiro, você pode ir muito além nos seus estudos e aprender detalhes sobre a tecnologia sem depender de um professor ou alguém para te mostrar, você pode ir além. Segundo, nem tudo precisa estar conectado à internet, mas se estiver, que tenha uma boa segurança.
Quando eu assistia o filme Hackers, pensava: “por que as luzes do prédio estão controladas por um sistema que pode ser acessado pela internet?” Hoje, com aparelhos como a Alexa e os conceitos de casas e escritórios inteligentes, isso se tornou muito mais real.
Cada vez mais estamos na era da Internet das Coisas, ou seja, coisas conectadas à Internet. Quando alguém tem um insight de que algo pode ter funcionalidades interessantes se tiver uma conexão, geralmente tem um pensamento assim: “vamos conectar isso à rede, depois a gente pensa na segurança, afinal ninguém vai querer acessar isso agora”.
Bom, tem dois erros nesse pensamento.
Primeiro, você não vai lembrar de pensar na segurança até que seja tarde demais.
Segundo, tem sim muita gente querendo acessar tudo o que está conectado à internet.
Há alguns anos houve um famoso ataque massivo de negação de serviços (DDoS), que derrubou o acesso a milhares de servidores em alguns países, cuja origem dos ataques era, principalmente, de dispositivos como câmeras de vigilância que tinham pouca segurança e estavam sendo utilizadas.
No caso, scripts ficam buscando aparelhos conectados para descobrir falhas de segurança (como senha padrão, por exemplo) e os tornam como “zumbis”, aparelhos que podem lançar comandos que o invasor queira e aumentar o poder de ataque, além de ajudar a cobrir rastros.
Já reparou como os vírus de antigamente danificavam arquivos e sistemas, mas hoje em dia eles “apenas” mostram propagandas ou deixam o computador lento? Por que deixam o computador lento? É bem possível que estejam usando parte do seu processamento para realizar ações em favor do atacante ou até mesmo tentando encontrar outras máquinas vulneráveis.
Precisamos pensar na segurança de tudo o que está conectado.
Há um tempo atrás saiu uma notícia de um marcapasso que tinha conexão sem fio e que estava vulnerável a acesso remoto, podendo ser controlado por um invasor. Também teve notícias de hackers controlando sistemas de automóveis mais inteligentes. E há uns dias um hacker tentou contaminar água em uma cidade da Flórida.
Há uma comodidade muito grande ao se colocar tudo na Internet, mas cuidado, nem todo hacker quer apenas aprender ao máximo e ser melhor em suas habilidades.
Ah, e nem tudo de ruim que acontece em sistemas é culpa dos hackers, mas cada vez mais vamos ouvir essa desculpa.
Troque suas senhas e tenha uma ótima semana!
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