Fortes resultados animam o mercado; veja o que dizem os analistas Por Investing.com

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© Reuters

Por Ana Julia Mezzadri

Investing.com – A Via Varejo (SA:) reportou no quarto trimestre, após prejuízo no mesmo período do ano anterior, superando as expectativas de boa parte dos analistas. O resultado vem ancorado no forte crescimento das vendas no canal online, além da reabertura de lojas físicas.

A empresa anunciou, após o fechamento do mercado na terça-feira (2), que teve lucro líquido de R$ 336 milhões de outubro a dezembro, ante prejuízo de R$ 875 milhões um ano antes.

Na avaliação da XP Investimentos, “a companhia entregou resultados acima do consenso e destacou diversas iniciativas a serem entregues em 2021 na frente operacional, logística e financeira que, ao nosso ver, devem gerar valor ao longo do tempo.”

A Mirae Asset também tem uma visão positiva dos resultados, apesar de ressaltar a perda de margem, causada pelo aumento de despesas. “O ano de 2020 foi um ano desafiador para a Via Varejo e para o setor, mas conseguiu entregar crescimento, antecipando o forte crescimento de vendas online que era esperado somente para os próximos anos”, afirma a corretora.

“O resultado trimestral corrobora o bom momento da VVAR no final de 2020”, declarou o BTG Pactual. Também em tom positivo, o BB-BI observa que “os resultados referentes ao 4T20 da Via Varejo foram positivos. Observamos uma favorável evolução das vendas no canal digital, que deve tomar ainda mais impulso ao longo deste ano diante das iniciativas que estão em andamento.”

O Itaú BBA, por sua vez, destaca outras características do trimestre: “Acreditamos que a performance sólida tanto de vendas físicas quanto online fortaleceram o ecossistema omnichannel da Via Varejo. Além de melhorar a recorrência e os gastos do consumidor, também permitiram que a Via Varejo expandisse sua base de dados de clientes e aumentasse sua penetração entre consumidores de classes mais altas durante o trimestre.”

A Eleven Financial, que menciona que a companhia fechou 2020 com “chave de ouro”, acredita que o resultado “comprovou a assertividade das iniciativas tomadas pela empresa em seu processo de turnaround”. “Entendemos que os resultados vieram fortes, e que a empresa realmente deixou seu passado para trás, quando tinha muita dificuldade de performance operacional, de resultado líquido”, comenta Lucas Carvalho, da Toro Investimentos.

Finalmente, o Safra, que afirma que a companhia segue sua favorita no mercado de e-commerce, diz que “o último balanço da empresa mostra uma melhora consistente em suas operações, conseguindo recuperar a capacidade de execução e market share.”

Ações

Depois da divulgação do balanço, entre os analistas consultados pelo Investing.com, a ação da companhia recebeu sete recomendações de Compra, uma Neutra e uma de Venda, com preço-alvo médio de R$ 22,06.

O papel fechou o pregão desta quarta-feira (3) em queda de 0,83%, a R$ 11,92, pegando carona no , que terminou o dia em baixa de 0,32%, aos 111.183,95 pontos.

Desde o início do ano, os papéis registram queda de 25,6%. Esse movimento, na visão do BB-BI, “deve-se a uma excessiva preocupação dos investidores quanto à capacidade da Via Varejo de seguir apresentando evolução de vendas, especialmente nos canais online, frente à acirrada competição no setor”.

Nesse tema, Maurício Rahmani, analista da Reach Capital, acredita que a queda venha de uma desconfiança do mercado em relação ao market place, que tem crescido devagar. O analista menciona ainda temores relacionados às categorias mais vendidas: como a companhia está muito exposta a eletroeletrônicos e eletrodomésticos, produtos de menor recorrência e que bateram recordes de vendas em 2020, há medo de que ela não consiga entregar os mesmos números neste ano.

O BB-BI aponta, no entanto, que ainda que a companhia de fato esteja atrasada em relação a outras, ela possui vantagens competitivas, como o expressivo parque de lojas, o crediário e a fábrica de móveis. Rahmani acrescenta que a gestão tem entregado melhorias tecnológicas e facilitadores para a entrada de novos vendedores na plataforma.

Karoline Sartin Borges, analista da Planner, também ressalta: “Eles estão usando cada vez mais os pontos físicos como hubs logísticos para baratear o custo e reduzir o tempo de entrega. Eles têm uma vantagem competitiva que é a grande extensão de espaço nas lojas, que pode ser usado para logística.”

A analista destaca ainda a queda nos índices de inadimplência, que já estão em patamares pré-pandemia, e o ganho de market share acima da média do mercado.

Resultados

A receita líquida cresceu 24,4% ano a ano, para R$ 9,47 bilhões, em linha com o consenso da Bloomberg, mas 6,7 abaixo das estimativas do BB-BI. A fatia das vendas digitais subiu de 24% para 38%, e houve também crescimento nas vendas mesmas lojas, de 6,1%, ante previsão de 3% do BTG e de 5% do Itaú BBA, com aumento total de vendas de 5,6%.

No quesito e-commerce, a varejista registrou crescimento anual de 106% no GMV, que atingiu R$ 4,7 bilhões, ficando 1% acima da projeção do BTG Pactual e também acima da estimativa do Itaú BBA..

Assim, o Ebitda ajustado passou de um resultado negativo de R$ 35 milhões para um positivo de R$ 545 milhões, 16% acima da projeção de consenso do mercado, 7% acima da estimativa do BTG e em linha com as estimativas da XP e do Goldman Sachs. A margem Ebitda evoluiu de -0,5% para 5,8%.

Futuro

Para o ano, a Mirae espera que a companhia siga entregando resultados e demonstre recuperação mais significativa também nas vendas físicas. O Safra acrescentou ainda que espera que a varejista siga usando seu forte relacionamento com fornecedores, sua grande base de clientes e sua presença física em todo o país para ganhar ainda mais participação no mercado.

Rahmani destaca que a gestão tem apresentado uma visão otimista sobre os dois primeiros meses de 2021, o que ele vê como um bom sinal.

Sartin Borges é ainda mais enfática ao apostar que a companhia deve seguir entregando resultados fortes: “Acredito que agora a companhia já provou que é capaz de executar, o time está muito empenhado e tem mostrado resultado.”

“Eu entendo que os resultados devem continuar fortes. Se tivermos uma melhora do PIB e se as reformas acontecerem, mais empresas e mais capital podem vir para o Brasil, o que pode gerar emprego e consumo, impactando as varejistas nacionais”, aponta Carvalho, que ressalta também os riscos de concorrência.

Riscos

De fato, nem tudo são flores. O principal risco para a performance da Via Varejo, mencionado por todos os analistas consultados, é o acirrado ambiente competitivo. 

“Se o mercado acreditar que existe uma tese de consolidação, que os grandes players devem crescer em detrimento dos menores, a Via Varejo ainda é um player menor do que os outros e que ainda está em processo de turnaroud das operações”, explica Rahmani.

O impacto da concorrência, no entanto, pode ir além do futuro: “É importante chamar atenção que devemos esperar pelos resultados das demais companhias do setor para termos um melhor entendimento sobre a performance relativa da companhia”, aponta a XP.

Outros riscos mencionados pelos analistas são a deterioração do cenário macroeconômico,  riscos de execução, alta nas taxas de juros devido ao grande impacto nos ganhos com recebíveis e cartão de crédito, frustração no capital de giro, reversão da jurisprudência relacionada à Lei do Bem e processos judiciais.

Nessa linha, o BTG pontua ainda que “um potencial re-rating de VVAR3 dependerá de uma recuperação no tráfego em suas lojas, bem como de um maior progresso em novas categorias em sua divisão de marketplace ao longo do ano, o que poderia mitigar o risco de desaceleração das vendas de e-commerce em segmentos essenciais como eletroeletrônicos e eletrodomésticos.”

Os riscos de uma performance ainda melhor do que a prevista, por outro lado, são apontados pelo Goldman como: melhorias na execução e ganhos de market share, especialmente offline, crescimento mais rápido do que o esperado das plataformas online; e ganhos de participação das companhias líderes.

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