Como as categorias de base ajudam a salvar os clubes na pandemia – Esportes

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Há alguns anos, eram o buraco das ruas, os morrinhos dos campos de várzea que, na repetição do contato, davam aos pés a condição de amaciar a bola surrada e controlá-la, fazendo dela um brinquedo. O futebol brasileiro sempre foi mesmo uma fonte inesgotável de craques.


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Com o tempo, a brincadeira ganhou a companhia da seriedade. Um compromisso vindo com um novo  profissionalismo, para dar um caráter mais rígido, sisudo até, àquela atividade antes apenas lúdica. As categorias de base do futebol foram se desenvolvendo, substituindo ruas e campos de várzea. E na pandemia, os clubes recorreram ainda mais a elas.


Muitos dos garotos, portanto, tiveram um papel fundamental de encarar o desafio, salvar orçamentos e dar esperança, e por que não dizer alegria, a um país que, nos últimos tempos, tem sido marcado por mortes e incertezas. Pelos estádios vazios, o suor deles emerge no sol, na luz solitária dos refletores, na chuva e no silêncio, substituindo o grito ausente do torcedor.


“O ano de 2020 foi atípico para as categorias de base do futebol brasileiro, porque os clubes tiveram a necessidade de buscar mais jogadores para atender os plantéis principais, uma vez que muitas vezes o número de jogadores ficou restrito, por causa do contágio da covid-19. Então, o número de 25 a 30 profissionais, na média dos elencos, não estava sendo suficiente para suprir a necessidade dos clubes”, afirma o consultor Pedro Oliveira, entre outros, mestre em Administração e Finanças pela Fundação Getúlio Vargas e cofundador da consultoria OutField.


Jovens talentos


Oliveira destaca o Santos, o São Paulo, o Palmeiras e o Grêmio como os clubes que mais souberam recorrer à base neste ano difícil. 


“Atualmente, muito por conta da conjuntura global (com menos receitas e mercados mais fechados) os clubes voltam a olhar para dentro e entender as categorias de base não só como um ativo que pode ser receita relevante, mas também como uma ferramenta competitiva de alto impacto”, afirma o consultor.



Neste rol, se incluem também Corinthians, Fluminense e Internacional, que, desde o início de 2020 e já em 2021, têm pelo menos um terço do elenco vindo de categorias de base.


O Fluminense, por exemplo, se classificou para a Libertadores utilizando pelo menos 16 jogadores que subiram do sub-20 desde o início de 2020.


Entre os talentos revelados estão Igor Julião, Luiz Henrique, André, Martinelli, Marcos Paulo, Wellington Silva, Marcos Felipe, Digão, Calegari, Daniel, Wisney, Nascimento, Miguel, Caio Paulista, Christian e Evanílson.


Acostumado a revelar e depois vender, neste ano o clube também arrecadou com vendas como a de Evanílson, para o Porto, que rendeu, em setembro último, 30% do valor da venda ao Fluminense, um total de cerca de 3 milhões de euros (R$ 20,1 milhões atuais).


Também para a equipe portuguesa foi o atacante Pepê, por cerca de US$ 15 milhões (R$ 86,2 milhões atuais) revelado pelo Grêmio, classificado para a Libertadores e finalista da Copa do Brasil. Em 2020, o técnico Renato utilizou pelo menos outros 19 vindos da base: Guilherme Guedes; Ruan; Rodrigues; Darlan; Jean Pyerre; Patrick; Rildo; Matheus Henrique; Lucas Araújo; Fabrício; Ferreirinha; Isaque; Guilherme Azevedo e Éverton.


Com maior folha salarial no País, o Flamengo terminou o ano como campeão brasileiro e, após contratações no início de 2020, passou a recorrer mais a jogadores da base, entre eles Hugo Souza;  João Lucas; Natan (cujos direitos foram negociados por empréstimo ao Bragantino); Otávio; Ramon; Gabriel Noga; João Gomes; Hugo Moura; Richard Rios; Lázaro e Rodrigo Muniz.


No Inter (RS), vice-campeão brasileiro e classificado para a Libertadores, foram lançados nos últimos tempos nomes como os de Heitor; Erik; Bruno Fuchs; Roberto; Johnny; José Aldo; Nonato; Zé Gabriel; João Peglow e Netto. 


No Corinthians, que conseguiu se recuperar de um início difícil no Brasileiro, os jogadores Guilherme Pezão; Matheus Donelli; Lucas Piton; Raul Gustavo; Gabriel Pereira; Xavier; Roni; Ruan Oliveira; Gustavo Mantuan; Matheus Araújo; Rodrigo Varanda e Cauê, vindos da base, foram integrados ao elenco profissional em 2020 e 2021.


O São Paulo se classificou para a Libertadores, abrindo mais espaços em 2020 a nomes como os de Lucas Perri, Júnior; Thiago Couto; Diego Costa; Walce; Liziero; Luan; Rodrigo Nestor; Igor Gomes; Gabriel Sara; Helinho, Brenner, Paulinho Bóia, Toró e Danilo Gomes. Brenner (cerca de US$ 18 milhões ou R$ 103,4 milhões atuais) e Antony (cerca de US$ 12 milhões ou R$ 74 milhões atuais), também outro nome revelado, tiveram os direitos negociados, gerando uma receita significativa.


O Palmeiras passou a contar com o melhor elenco do Brasil, para muitos, a partir da entrada, em 2020, de jogadores da base que se tornaram titulares ou foram fundamentais para que o clube conquistasse a Libertadores e a Copa do Brasil. Podem ser citados Gabriel Verón; Gabriel Menino; Patrick de Paula; Alan; Esteves; Wesley e Danilo.


Também o Santos, com menos investimentos, segundo Oliveira, foi vice-campeão da Libertadores e classificado para a edição da competição em 2021, manteve a tradição de formar novos “Meninos da Vila”, mas, em função da pandemia, a ascensão da base foi ainda mais intensa, com a entrada repentina de jovens como John; João Paulo; Marcos Leonardo; Derick; Sandry; Ivonei; Kaio Jorge; Lucas Lourenço; Alex Nascimento; Wágner Leonardo e Taílson.


Essência dos clubes


Mesmo com as revelações, a redução mundial de investimentos, por causa da pandemia, impediu que os clubes tivessem um crescimento de receitas proporcional ao aumento da utilização dos jovens.


Isso, no entanto, não tira a importância destes jogadores, tanto do ponto de vista técnico, quanto pelo fato deles ajudarem a reduzir os custos dos próprios clubes. E, no futuro, poderem se tornar uma importante fonte de receita, com uma evetual negociação.


“Os clubes têm em média 23% da receita vinda de venda de jogadores, a segunda mais importante, atrás dos direitos de TV, que em média são de 50%. Não vimos (um aumento significativo de receita com as vendas) muito no ano passado, mas muito em função da conjuntura global”, ressalta Oliveira.


A projeção de lucro para os clubes, no entanto, é uma realidade, independentemente do prazo. O Palmeiras, por exemplo, segundo o assessor técnico Edu Dracena, projeta obter uma receita de, ao menos, 100 milhões de euros (cerca de R$ 671 milhões, na cotação atual), negociando alguns destes jovens jogadores no futuro.


A questão financeira, porém, é secundária. Na urgência, jovens de origem humilde, ainda enraizados às dificuldades e aos sonhos da infância, tiveram a maturidade de encarar o momento com um toque de heroísmo.


Impulsionados pelo próprio sonho e pela disponibilidade de ajudar a preencher o vazio dos clubes. Com eles, o futebol brasileiro ganhou uma nova feição. Que, diante da incerteza, une o sonho de cada um a um ato de responsabilidade. Conhecido também como solidariedade.


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